
Nono Passo
“Fizemos reparações diretas dos danos causados a tais pessoas, sempre que possível, salvo quando fazê-las significasse prejudicá-las ou a outrem.”
O Nono Passo centra-se no restabelecimento das relações com as outras pessoas. Podem ser próximas, distantes, desconhecidas. É um passo que se refere aos comportamentos dos quais nos envergonhamos, as ofensas que praticamos e mágoas que causamos, os atos inaceitáveis que cometemos (tudo o que descobrimos no Quarto Passo). É um passo extremamente difícil, que requer muita coragem! Coragem para olhar nos olhos da outra pessoa, lembrar o motivo da reparação, voltar naquele dia, naquela hora, conversar sobre o fato e desculpar-se pelo coração, com verdade. Abrir feridas, desinfetar e fechar! É surpreendente. Fazemos muita fantasia, temos muito medo e, no final, quase tudo é curado.
Assim que entrei em recuperação, não fiz as minhas reparações com muita reflexão. Fiz correndo para me livrar logo delas. Algumas foram um desastre, outras nem tanto. Tive muita taquicardia e suor frio. O mais interessante foi o que aconteceu com mais de uma pessoa que não entendeu o motivo de minha reparação. Disseram que não tinham visto, nem sentido daquela forma, que eu estava exagerando! É, pode ser! Muita culpa, na ocasião, e baixa autoestima certamente.
Hoje, procuro me reparar com as pessoas assim que percebo que pisei na bola, que fui agressiva, impaciente, intolerante, preconceituosa - meus grandes defeitos. Família, motoristas de táxi, vendedoras de loja incompetentes, caixas de supermercado, profissionais de telemarketing (um tremendo treinamento). Volto atrás e converso, me reparo. Não é muito fácil, mas respiro e sigo em frente. A maioria fica de boca aberta e olhos arregalados. Ninguém espera essa atitude. Fico feliz quando consigo, ganho meu dia!
O Quinto e o Nono Passo sempre apontam para a necessidade de ter coragem e honestidade. E humildade, autoconhecimento, critério, bom senso, prudência. Lembrando que não devemos buscar nossa paz de espírito à custa dos outros. Reflexão e limite.
No caso de dependentes em recuperação, há uma necessidade grande de sair se reparando com todo mundo que eles acham que prejudicaram! Há que haver calma. Saber que algumas reparações dão certo, outras não. Algumas pessoas entendem e aceitam sua reparação, outras se sentem tão magoadas que não conseguem ou não querem aceitar. Não importa qual a reação da outra pessoa e, sim, a sua atitude. Você fez a sua parte e certamente se sentirá muito mais em paz para prosseguir na sua jornada de se livrar de alguns comportamentos nefastos, evoluir, adquirir liberdade.
Lembre-se de que existem situações em que uma revelação poderia resultar numa total confusão, mais mágoas e situações irreparáveis. Como uma perda de emprego, por exemplo, uma separação de casal, fatos bem graves. Não precisamos dizer a qualquer pessoa nossas verdades. Isso se chama imaturidade.
Coragem é mais do que ausência de medo, não é só o oposto de covardia. Coragem vem do treinamento da humildade. Podemos cultivá-la, dia a dia. Hoje, com todas essas redes sociais, vale até pelo whatsapp! Só não sei se o resultado é o mesmo e se o treinamento da coragem fica frágil.


