
Quarto Passo
“Fizemos minucioso e destemido inventário moral de nós mesmos”
É um passo de ação. Saímos do mental e passamos a agir acreditando que, a partir do momento em que nos dispomos, com coragem e vontade, a ver os nossos segredos escritos (somos tão doentes quanto nossos segredos), aterramos aquilo que pensamos que foram nossos “pecados”.
Enquanto sob o efeito de nossas compulsões, sejam elas quais forem, agimos de acordo com elas e não como realmente somos. Perdemos o prumo, o equilíbrio, nossa energia vital se enfraquece e dança totalmente fora do ritmo. Começamos a isolar-nos porque achamos que ninguém nos acompanha nos pensamentos e nas ações. E também porque nos sentimos envergonhados, algumas vezes, em demonstrar nosso comportamento.
Aqui vai um pequeno exemplo:
Elza gostava de chocolates. Com o tempo passou a comer mais chocolates. Com mais tempo, começou a engordar e perdeu o controle sobre a comilança. Foi ficando preocupada, chateada, mas não conseguia evitar comer cada vez mais chocolates. Guardava dinheiro só para comprar os benditos. E, às vezes, não tendo, assaltava a bolsa da mãe. Brigavam muito com ela e, para parar de ouvir tanta chateação, passou a comer escondido. E escondia os chocolates em lugares onde pensava que ninguém ia achar! Foi ficando mais gorda, mais inchada, o fígado começou a pifar, assim como a vesícula, o pâncreas, então apareceu a diabetes. Mas Elza não queria nem saber, se escondia, se isolava, não ia mais ao colégio porque era alvo de bullying, não saía com colegas...Namorar? Ninguém queria saber dela, chorava e misturava lágrimas salgadas com o doce do chocolate.
O Quarto Passo nos ajuda a colocar tudo em perspectiva outra vez. Tudo que estava por baixo, escondido, que não vemos nem queremos ver. Há um ditado que diz: “Não é o que sabemos ou não sabemos, mas o que achamos ser verdade e não é”.
Escrever é um método muito antigo de autoconhecimento utilizado por pessoas notáveis, como Santo Agostinho e Pascal. Nos tempos modernos, existem metodologias de crescimento pessoal que utilizam o hábito de um diário. Mostram experiências do passado, como épocas de exaltação ou depressão, raiva, fracassos, momentos de esperança, sucessos parciais, etc.
Aqui, para o nosso objetivo, sugerimos fazer listas para começar, como:
1) De quem tenho ressentimento, e por que?
E qual a causa?
2) Como esse sentimento me afeta?
O que sinto verdadeiramente e me leva a agir desse ou daquele jeito?
3) Que comportamentos venho tendo que, no fundo, não gostaria de ter e que me levam ao arrependimento, ao autoengano e à mentira na vida social, na escola, no trabalho, em casa, na saúde, no amor, qualquer lugar?
Esses três passinhos são o que chamo de baby steps, um início para poder enxergar com mais facilidade, clareza e honestidade o que está acontecendo quando a compulsão está preocupando. Com o tempo, podemos aprofundar cada vez mais (os exercícios de aprofundamento estão em outra página, antes do Quinto Passo).
Quero esclarecer que esse exercício escrito não é um inventário imoral, ele é moral, de memória, de momentos felizes, importantes, positivos e alegres, não só das coisas que envergonham. Deixe espaço na folha para ir acrescentando o que aparecer mais para frente. Nesses escritos, estamos reconhecendo o que sempre aconteceu, não só sob o efeito de alguma compulsão, mas talvez a vida toda. Fique atento! Não é uma vida e, sim, uma seleção de eventos.
Não se preocupe com a forma, ortografia, etc. São seus eventos, acontecimentos sempre ricos, pedaços de sua história que devem ser respeitados por você. É um material mágico e precioso. É a maneira primordial para entender a nós mesmos e as outras pessoas, por isso são fatos que não devem permanecer encarcerados.
E o que não está bom, pode ser mudado sem autoflagelo. Amor e misericórdia por você! Coragem!


